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quinta-feira, 27 de novembro de 2014

- Oi.
- Oi. tudo bem meu lindo?
- Tudo...
- Que foi?
- Nada não...
- Tá com uma cara estranha? O que foi que houve? Pode falar...
- Pow... não sei como te dizer.
- Só falar.
- É Smierdiákov...
- É Smierdiákov o que?
- Que mata Fiódor Pavlovitch Karamázov em "Os irmãos Karamazov". Ele tem um surto, na verdade é um filho bastardo e Dostoiévski faz uma metáfora da morte de Deus por parte do homem. Eu interpreto como extremamente pessoal porque ele era epilético também e só se converteu na cadeia lendo a Bíblia que foi o único livro que ele teve acesso. Pronto falei.
- ...
- Tá chateada é?
- Caralho...
- Que foi?
- POR QUE ME FALASSE ISSO? EU FALTAVA AINDA 500 PÁGINAS! 500 PÁGINAS!
- Queria economizar esse tempo na tua vida, podíamos investir em outra coisa.
- Tipo o que?
- Amar.
- ...
- Tou perdoado?
- ...
- Hein?
- Tá. Amar é melhor que ler.

sábado, 6 de julho de 2013

De ser velho

- Tu curte que tipo de som?
- Pow, teve uma época que eu só curtia H.C., Punk, algumas bandas de Trash, poucas de Black e de Death; Depois comecei a curtir de tudo, Belchior, Raul, Tom Zé, Edson Gomes, Maurício Baia... Mas hoje em dia o que eu escuto mesmo é Galinha Pintadinha e Palavra Cantada.

Mateus está num relacionamento de brincadeiras.



Não há nada pior do que pessoas sérias. A lógica importada da Europa de que não se pode falar de coisas relevantes com brincadeiras não se adequa, obviamente, à nossa realidade gnosiológica e empírica. Em outras palavras, como diria o filósofo Zé Lezin da Paraíba "Brasileiro é como manequim de alfaiate, é o ferro no rabo e ele rindo o tempo todo".
Não há nada pior num relacionamento interpessoal quando some a brincadeira, quando a rotina toma assento e se esparrama, ocupando todos os espaços que antes serviam às brincadeiras, ao casal.

Relacionamento sério denota exclusividade, ciúmes sérios, possessividade séria, passionalidade condicionada para brigas sérias, sobre assuntos sérios que apenas pessoas sérias teriam a seriedade para dialogar seriamente sobre isso. Discussões sobre pormenores de compromissos que ninguém assumiu explicitamente, mas que o outro acredita seriamente que é tácito de um relacionamento sério.

Um relacionamento de brincadeiras não denota nada. Brincadeira é como denominamos a liberdade infantil de se fazer o que quiser, de se estar onde quiser, de reinventar a verdade e o mundo. Um olhar de deslumbramento para todas as pequenas coisas, uma alegria de se estar vivo por mais um diam de calçar os sapatos dos outros e sair andando como se fossem nossos. É a obrigatoriedade apenas para com a nossa própria felicidade.

Disseram-me, certa vez, que apesar da gravidade a Terra não passa de uma pedrinha voando no ar, então também temos que voar.

Obrigado, mas prefiro um relacionamento de brincadeiras... voemos.

Sobre palavras e pessoas.


Pequenos atos que consideramos por vezes insignificantes tomam proporções inexplicáveis em nossas vidas e nos tornamos coadjuvantes de nossa própria história, atores alheios dos roteiros de nossas vidas. O tempo não perdoa, não sente pena, e de fato sequer existe, senão como uma simbologia para a sucessão de eventos racionalmente categorizados. Vivemos no ínterim efêmero do nascimento à morte, no limiar da razão, do sentir e da manutenção da frágil máquina que são nossos corpos.

A vida sempre me foi muito difícil, ou pelo menos desde que passei a acreditar na mortalidade do espírito com o corpo, ou na sua inexistência para ser mais específico. A imortalidade da alma, ou a crença em outras vidas dá ao interlocutor desse tipo de discurso a cômoda falácia de chances infinitas, como num jogo de vídeo game, como um filme onde a personagem principal é importante demais para morrer, não importando o que ela faça, como viva, aonde vá, onde fique... sempre terá uma nova chance de reparar seus erros. Contudo, a concepção de karma traz em si incomensurável crueldade, dando a inocentes pretextos de culpa e de obrigações para com, em detrimento de outras vidas. À parte disso, me vejo perdido na eterna última chance de ser, na última página em branco que terei de preencher com um texto de ações irreversíveis, sem parágrafos, deletes e com um último ponto final à espera de findar o texto por toda a eternidade.

A minha memória, entretanto, é falha e não funciona como um texto que pode ser relido sempre que aprouver ao leitor. Tenho dificuldades em saber o porquê de determinada palavra ter sido posta em determinado ponto do texto, mesmo sabendo que na hora me parecia a melhor alternativa, me escapam as justificativas. Abismos intercalam nossas palavras a cada silêncio, a cada sentimento não expresso, a cada raiva contida, a cada desejo não saciado, a cada privação. Tudo isso me faz sentir que fiz/escolhi a palavra errada. Mas, como disse, é a palavra que no momento achamos a melhor possível e depois, após sentirmo-nos diferentes, vemos como inadequada, como errada. Mas são escolhas absortas em sentimentos, são escolhas não editáveis.

O que constitui nosso caráter é a forma com a qual agimos ante as conseqüências de nossas próprias atitudes, se as rechaçamos como não nos pertencendo ou se as enfrentamos de frente com a cabeça erguida e com a consciência limpa...

Poema curto sobre um amor longo

Continua...

domingo, 31 de março de 2013

À Recife


Recife ser teu filho é responsabilidade sem igual.
Meu amor fique sabendo
Se eu te desse o que me deu,
Dava tudo que tenho e ainda ficava devendo.

Recife minha puta costeira
Não te quero só boa, te quero inteira,
Com teus feitos e teus defeitos.

Porquê um recifense que se presa
Quando está contigo não tem pressa,
Apenas pena de ser mortal.